Como se sabe, a teoria crítica rejeita identificar a
emancipação humana com algum ideal abstrato e utópico que não esteja inscrito
como possibilidade concreta dentro do quadro de realidade social que se esteja
apreciando. Esse tipo de ideal abstrato e utópico é associado com o
normativismo, que é um tipo de teoria tradicional, e não de teoria crítica, e
que erra não apenas porque concebe o ideal de maneira desligada dos processos
históricos e sociais concretos que lhe poderiam dar plausibilidade teórica, mas
também porque favorece uma atitude prática conformista na medida em que exige
da realidade uma transformação pela qual esta não pode passar verdadeiramente –
não é conformista por aceitar o real passivamente, e sim por opor a ele um
ideal que não é alcançável. Para escapar da tentação do normativismo, é preciso
divisar uma possibilidade de emancipação que esteja inscrita como possibilidade
concreta no quadro social real. Para Marx, por exemplo, o comunismo estava
inscrito desta forma no quadro do capitalismo não apenas porque representava a
realização das promessas de liberdade e igualdade feitas pelo Esclarecimento e
mantidas, mesmo que de forma distorcida, como cerne ideológico de convencimento
da democracia liberal capitalista, mas também porque as forças históricas reais
existentes na sociedade, isto é, o desenvolvimento das forças produtivas e a
superexploração seguida de progressiva exclusão da classe trabalhadora dos bens
da vida capitalista, de fato criariam as condições para a transição para uma sociedade
pós-capitalista para além do trabalho físico e da escassez. Esse não era um
ideal abstrato, e sim um ideal inscrito no processo de desenvolvimento (e de
superação dialética) do próprio capitalismo. Se esta análise de Marx pecou ou
não pelo ceticismo em relação à capacidade de reinvenção e de adaptação do
capitalismo e pelo otimismo em relação às condições da revolução proletária,
este é outro ponto. O que estou enfatizando é que, do modo como foi proposto
por Marx, não era um ideal abstrato, e sim uma possibilidade de emancipação
inscrita de modo concreto no processo em curso na história.
In Teoria Crítica e Arte: Seria Nosso Ideal Artístico Utópico, em vez de Emancipatório?
Link: http://aquitemfilosofiasim.blogspot.com.br/2014/01/teoria-critica-e-arte-seria-nosso-ideal.html
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